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Os Estágios Do Desenvolvimento Estético, Segundo Abigail Housen


Após observar duzentas pessoas, Housen concluiu em seus estudos que existem cinco tipos possíveis de leitores, a saber: Accountive, Constructive, Classifying, Interpretative e Re-Criative.

1º estágio: Accountive (descritivo)

No primeiro estágio proposto por Housen encontram-se leitores pouco habituados com as artes. Em geral, impressionam-se pelo tema da obra, manifestando interesse pelas formas e cores e detalhes que mais chamam a atenção, elegendo alguns para análise. Para esse tipo de leitor, a obra tem vida própria, comportando-se como o narrador de um filme, que gradativamente tece uma história relacionando partes da obra com experiências vividas anteriormente. Muitas dessas histórias têm como ponto de partida a obra, mas acabam seguindo uma trajetória completamente distante da imagem que a gerou.

A pergunta freqüentemente feita pelo leitor do 1º estágio é o que é isto? Suas respostas tendem a satisfazer essa pergunta de forma concreta: é isto, é aquilo, etc. (ROSSI, 2006).

Em razão do pouco tempo despendido para observar a obra, é praticamente impossível um envolvimento emocional por parte do leitor. Mesmo assim, a imagem observada permanece em sua mente, tendo mais subsídios para a leitura da próxima obra de arte a que for apresentado.

2º estágio: Constructive (Construtivo)

O segundo estágio apresenta um leitor capaz de relacionar as partes de uma imagem com o todo, percebendo uma hierarquia entre os elementos. Esse leitor reflete acerca de sua própria vida e tenta relacionar a obra de arte com sua experiência de mundo anterior, buscando o significado da obra dentro de certos padrões aceitáveis em seu meio.

A pergunta fundamental do 2º estágio é como isto é feito? A partir daí começa uma preocupação com as propriedades formais da obra, levando em consideração o julgamento sobre a técnica que o artista empregou, o que tornará o quadro bem feito ou não. A acuidade fotográfica do artista em retratar o ambiente, a dificuldade e o tempo despendido também são levados em consideração pelo leitor do 2º estágio.

É importante salientar que a partir deste estágio a obra de arte passa a ter um caráter utilitário e funcional, que deve servir a propósitos morais, didáticos ou práticos (ROSSI, 2006). Ainda de uma maneira primitiva, começa a surgir a consciência da intencionalidade do artista e um certo distanciamento por parte do leitor para poder analisar a obra. Em relação ao 1º estágio, o leitor construtivo deu um grande passo rumo ao desenvolvimento estético.

3º estágio: Classifying (Classificativo)

O leitor classificativo busca compreender a obra a partir de um contexto de informações, presentes tanto na imagem quanto na história da arte. Esse leitor busca um diagnóstico da obra (ROSSI, 2006), buscando pistas e informações para decodificá-las na busca da compreensão da imagem. As perguntas que servem de base para esse leitor são quem e por que, que lhe dão subsídios para a análise proposta.

Nesse estágio o leitor ainda possui um lado subjetivo e arbitrário, embora seja mais objetivo na análise, mas já tem habilidade suficiente para retirar da própria obra os elementos para a interpretação, diferente do leitor dos dois primeiros estágios.

4º estágio: Interpretative (Interpretativo)

No quarto estágio o leitor baseia sua interpretação tanto nas informações da imagem, como também na própria intuição e na memória. As emoções ressurgem para proporcionar um entendimento global da obra, levando em consideração suas sutilezas. Os aspectos afetivos tomam o lugar de uma análise mais rigorosa.

O quarto estágio também se caracteriza por uma postura menos egocêntrica, tentando envolver agora o coletivo, já que o leitor adquire a consciência de que sua interpretação pode ser justificada de maneira que seu ponto de vista possa ser percebido e reconhecido.

O leitor interpretativo é menos rigoroso que o classificativo e a pergunta freqüente é quando? "Não no sentido de contextualizar ou classificar o trabalho, mas para saber quando os sentimentos gerados pela obra aparecem ou reaparecem" (ROSSI, 2006: p. 32). É comum nesse estágio o uso de verbos ativos e expressões e metáforas poéticas.

5º estágio: Re-criative (Re-criativo)

O último estágio apresenta um leitor muito familiarizado com arte, com grade experiência na análise de obras e que possui uma criticidade e postura extremamente desenvolvida. Esse leitor já possui conhecimento anterior sobre a obra analisada, e é capaz de ler a imagem em diferentes níveis, levando em conta jogos visuais, ambigüidades e paradoxos (ROSSI, 2006).

O leitor re-criativo preocupa-se em saber como o artista resolveu os problemas que a obra lhe impôs e qual o caminho que ele percorreu até chegar à resposta. Esse leitor "é capaz de refletir sobre o objeto de arte, sobre si próprio e sobre a experiência estética" (ROSSI, 2006: p. 33). Seu desenvolvimento cognitivo, em equilíbrio com a emoção está na base de sua experiência estética.

Nesse estágio já não há uma pergunta central que guia a atividade do leitor, mas uma inter-relação entre todas as outras perguntas: o que, como, que, por que e quando (ROSSI, 2006). A partir do momento que o leitor busca reconstruir, a partir da sua experiência estética, a obra apresentada, ele consegue unir a imagem no seu próprio ato de re-criação.

Considerações finais

Housen propõe com seus estágios que o desenvolvimento estético sempre começa a partir de um ponto de vista egocêntrico e continua por toda a vida, até que o leitor alcance um conhecimento mais geral, para atingir o conhecimento estético verdadeiramente. Mas isto não significa que todos os adultos encontram-se no último estágio, nem que todas as crianças encontram-se nos estágios inferiores. Para Housen, o quinto estágio é formado por pessoas que têm intimidade com a arte, como professores e críticos, e quanto menos familiarizado com arte, menor o estágio em que se encontrará o leitor.

Assim, tanto para Abigail Housen quanto para Maria Helena Wagner Rossi é importante que o professor de arte conheça a estrutura do pensamento estético, para permitir ao aluno uma apreciação estética mais rica, através da adequação das propostas metodológicas às necessidades dos alunos, para que o conhecimento estético atinja todas as camadas sociais, não se restringindo a uma minoria de iniciados no assunto.

Referências

ROSSI, M. H. W. A compreensão do desenvolvimento estético. In: PILLAR, A. D. (Org.) A educação do olhar no ensino das artes. Porto Alegre: Mediação, 2006.

Notas

[1] Doutora em Educação pela Universidade de Harvard, EUA.

[2] HOUSEN, A. The eye of the beholder: measuring aesthetic development. Harvard University, 1983. (Tese de doutorado).




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